Você me abraçou. Duas vezes. E logo hoje que eu não arrumei o cabelo, que o rímel estava borrado, que o dia não nasceu direito. Queria ter sido capaz de ouvir, mas minha ansiedade passou como um bloco de carnaval por cima das palavras, das minhas e das suas. O que eu vi em você? Será que você vê algo em mim? A forma ou o conteúdo. Não importa. Para mim importa: forma e conteúdo. O dia hoje foi péssimo. E não deu tempo nem de dar uma olhadinha no espelho antes de você aparecer.
Ontem eu tinha passado o dia esperando uma ligação sua e não consegui dormir. Uma sinal, um contato qualquer, só para que eu pudesse fechar os olhos e sonhar com suas letras. Mas você nem surgiu na minha tela. Achei que não estivesse mais na cidade. Repassei as histórias: as que eu vivi e as que não são minhas. Seu sorriso paradoxal me trazia uma calma e um desespero, um alívio e um desajuste. E aí hoje você surgiu, como se brotasse do chão, tal qual flor, tal qual fogo. Suave nos modos, destruindo minha retidão de caráter. E logo hoje que eu não arrumei o cabelo. O dia hoje foi péssimo.