sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sobre a limpeza

A casa já estava arrumada para ele ir embora. Na verdade, ela sempre esteve, desde o dia em que ele decidira voltar. Seria muito arriscado entregar-se àquele amor novamente. Preferiu não recolocar as fotos no porta-retratos nem alterar o status na rede social. Manteve-se neutra, tal qual uma Suíça, esperando pacientemente que algo de ruim acontecesse. Então, como não havia nada que pudesse fazer, pensou que dormiria, plácida, mas a noite, aquela, como tantas outras anteriormente, prometia. Não dormiu. Percorreu mentalmente cada canto da casa, procurando vestígios dele, algum deslize, uma prova de amor aqui, a lembrança daquela viagem que fizeram juntos ali. Não havia mesmo muita coisa de relevante. Mas chamou sua atenção que ele tivesse deixado marcas na sua vida. Não eram muitas, nem grandes, mas eram marcas. Nada que um alvejante, uma esponja e uma noite de trabalho benfeito não dessem conta.