sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Sobre a limpeza
A casa já estava arrumada para ele ir embora. Na verdade, ela sempre esteve, desde o dia em que ele decidira voltar. Seria muito arriscado entregar-se àquele amor novamente. Preferiu não recolocar as fotos no porta-retratos nem alterar o status na rede social. Manteve-se neutra, tal qual uma Suíça, esperando pacientemente que algo de ruim acontecesse. Então, como não havia nada que pudesse fazer, pensou que dormiria, plácida, mas a noite, aquela, como tantas outras anteriormente, prometia. Não dormiu. Percorreu mentalmente cada canto da casa, procurando vestígios dele, algum deslize, uma prova de amor aqui, a lembrança daquela viagem que fizeram juntos ali. Não havia mesmo muita coisa de relevante. Mas chamou sua atenção que ele tivesse deixado marcas na sua vida. Não eram muitas, nem grandes, mas eram marcas. Nada que um alvejante, uma esponja e uma noite de trabalho benfeito não dessem conta.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Um clichê embrulhado para presente
É muito clichê dizer que cada minuto pareceu dez? É pouco original? Essa historinha de dizer que o dia hoje demorou a passar já foi muito contada? Sim, sim e sim. Eu não me importo. As horas hoje se arrastaram como latinhas presas no carro de recém-casados. Barulhentas, desnecessárias, clichês. Obra de algum espírito de porco sem ter o que fazer. Cada minuto que não passava, era mais um minuto para pensar, cheirar, vivificar, sentir o ontem. Meus pensamentos pareciam caminhos de rato. Não davam em lugar algum, se cruzavam, iam e voltavam, retornavam ao ponto de partida para logo escolherem uma nova rota, tão ilógica, irrelevante e não razoável quanto a anterior. E o que eu posso fazer? Como eu poderia evitar? O que se diz para um cérebro atormentado, principalmente num dia em que o relógio brinca de slow motion?
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O que eu pensei pela manhã e não disse
Eu me enchi de você. Desejei a sua inexistência. Cansei desse seu jeito de me olhar, de me tocar, de me chamar, de não me olhar... Mas quando vejo meu reflexo no espelho, tenho medo de deixar você. Tenho medo de só você aceitar isso que vejo agora no espelho. Receio mesmo que só você seja capaz de amar esse reflexo, a pessoa refletida, que não reflete um só minuto antes de socar o espelho e tentar se retalhar com os cacos.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Eterna lembrança de uma mente sem brilho
As luzes apagaram, e algumas gotas começaram a cair. No radinho tocava uma música que sempre me deixa um gosto bom na boca, uma saudade de sei lá o quê. Fui deixando o tempo passar, mas contando os minutos para que você notasse. Na verdade, acho que você já tinha notado. Deixei aquela música, aquelas gotas, os toques e o calor acontecerem. A noite ia acontecendo, e na minha cabeça eu pensava no que ia falar. Sim, nesse momento eu já tinha certeza do que ia acontecer. É tudo tão calculado, sempre. Mas pensei. Algumas palavras aqui, outras ali. Falei. Dali, eu soube conduzir, como numa dança, tudo o que eu queria. A música parou. Intencionalmente. Não sei bem mais o quê. Não lembro direito. Verifiquei no relógio: um pouco antes de a manhã dar as caras, algumas horas depois de ser amanhã, parei. É preciso botar um ponto final nas histórias. Agora, eu às vezes penso sobre isso, mas não quero procurar. E sei que não vão me achar. Foi como eu escolhi: o escuro, o anonimato, o efêmero.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Tirem suas burkas do armário
Não sou do tipo que desenvolve pensamento. Eu penso. Eu chego a uma conclusão sem exatamente saber os passos que tomei. Como nas primeiras aulas de matemática, no caderninho de problemas: havia o espaço para a resolução do problema, e você tinha que demonstrar como achou a solução. Sempre achei estúpido, mas valia nota. Tinha que fazer. Agora, com a liberdade do mundo adulto, sem caderninhos de problemas, penso. Chego a conclusões apressadas. Não necessariamente equivocadas, mas certamente impulsivas, imediatas. Algo que tape o buraco, que preencha o vazio da falta de explicação. E de forma rápida!
Essa história de não pode coco, não pode bronzeamento artificial, não pode fumar, não pode gay em história em quadrinho, não pode, não pode, não pode, está me assustando. Daí vão dizer que ninguém proibiu nada, que só estão questionando, ou que a proibição, como o coco e o cigarro, é para um bem maior, blá blá. Cheguei a conclusão de que estão implantando uma nova ditadura, de que as velhinhas do Família, Deus e Propriedade, seja lá o nome que isso tinha, estão tomando de assalto nossa casa de novo. Sim, é essa minha conclusão. Refutem.
Essa história de não pode coco, não pode bronzeamento artificial, não pode fumar, não pode gay em história em quadrinho, não pode, não pode, não pode, está me assustando. Daí vão dizer que ninguém proibiu nada, que só estão questionando, ou que a proibição, como o coco e o cigarro, é para um bem maior, blá blá. Cheguei a conclusão de que estão implantando uma nova ditadura, de que as velhinhas do Família, Deus e Propriedade, seja lá o nome que isso tinha, estão tomando de assalto nossa casa de novo. Sim, é essa minha conclusão. Refutem.
sábado, 21 de novembro de 2009
Preciso de um título pouco óbvio
Do que vale a alma, se o corpo, pequeno, mesquinho, não abraça o mundo e seus encantos? Não se mantém viva a alma sem corpo, sem prazer, sem gozo. O corpo e seus inúmeros sentidos - pois cinco são só os citados no livro de ciências da primeira série - quando usados, colorem a alma em todos os tons de rosas, azuis, amarelos, violetas, verdes. Todos os tons de branco, se assim for possível. Corpo e alma, inseparáveis, dependem um do outro. Alimentem a alma, sim, mas não matem o corpo de fome. Deem a ele todo o tipo de sensação, boa ou ruim, regalem-no com as experiências mundanas, físicas, estas mesmo, da matéria, humanas. Só assim, o corpo transcenderá seus limites físicos, e a alma, feliz, poderá, um dia quem sabe, descansar em paz.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
John Mayer: will you marry me?
O cd novo do John Mayer, assim como os outros, me dá vontade de viver, de sair pela vida, pulando, bebendo, rindo, suando, chorando. Sei lá. Ele nem é tão bom, nem é tão lindo, e suas músicas nem são tão nada. Mas é uma parada que me toca, acho que é a voz e o jeito de cantar. Uma intensidade…
Eu preciso de intensidade. Assassin é uma música foda! Já me identifiquei.
That girl was an assassin too! Uhuuul! Muito eu!
E essa grande babaquice foi só para testar um programinha aqui.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Pulmões de aço
Sinto que vou me afogar em pensamentos. Na verdade, estou sendo pressionada. Um quarto, quatro paredes vão se aproximando de mim. Já estou perdendo o ar. Acho que é assim que estou me sentindo. Um lutador de sumô decidiu que minhas costelas davam um bom sofá. Mais ou menos isso. Meus pulmões parecem aço, não vão nem vêm. Não consigo respirar. O que é isso, meu Deus? Diz que é TPM para eu ficar mais calma.
sábado, 29 de agosto de 2009
Sem metáforas
Li alguns posts e fiquei pensando como conseguia ser tão metafórica. Não sei mais usar metáforas. Sou curta e grossa agora: estou sofrendo. Sofrendo de amor, de amizade, de má sorte, de carência. Não sei colocar mais de outra forma. Quero um abraço, um beijo cheio de desejo, um dia sem pensar merda, um carinho de um grande amigo. O Jô Soares está com uma estampa horrorosa, a Fernanda Lima apresentou um péssimo programa e agora deve estar dormindo com o marido gato dela, o Belchior sumiu e ninguém parou para perguntar se ele realmente estava fazendo falta. O mundo anda esquisito e depois dizem que a esquisita sou eu.
Já foi hora de dizer adeus
Sonho, acordo, sonho. O dia inteiro, sonho. Acordada. No andar de cima. Nos pensamentos fora de hora. Toda hora. E por aquela fresta, naquele segundo, por um breve segundo, um olhar. Mas se a tua voz pode ser minha por mais de minuto, viro o rosto, envergonhada. Teu sorriso arranha minha pele e não consigo continuar sem salivar. Quando chega a noite, a nova música do rádio me faz lembrar que já devia ter te esquecido.
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