Se um dia após o outro não houvesse, afogadas no terror de certas dúvidas as pessoas morreriam. E é porque há um dia após o outro que nós festejamos. Dormimos tristes, melancólicos, nostálgicos, saudosos, e acordamos sonhando outros sonhos, querendo saciar outras vontades. Quando pensamos no simples porém divino mecanismo de um dia após o outro, refletimos sobre as oportunidades. As perdidas e as que estão por bater em nossa porta. Analisamos toda a gama de hostilidades dispostas porta afora e saímos de casa. Não estamos preparados para a vida e para o mundo, mas temos que enfrentá-los. Nos valemos sempre do um dia após o outro. Alguns medem cada passo, outros atropelam-se a si mesmos.
Calma ou desespero. Uma questão de escolha na hora de viver um dia após o outro. Há dias de calma, há dias de desespero. Entretanto, o que mais fascina com relação a um dia após o outro é a capacidade de armazenar experiência. Nem sempre em um dia após o outro os dias são completamente diferentes, há dias que já foram vividos. De outra forma, talvez, mas vividos. E pelo acúmulo de experiências, vivemos esses dias quase-que-repetidos com a serenidade dos que conhecem. Não há desespero nesses dias. Há outros, logicamente, desconhecidos. Dias tão novos quanto um tênis branco dentro da caixa. Desses dias, as lembranças que ficam são um pouco confusas. Lembramos do cheiro do novo, do suor de medo, da fascinação do desconhecido, da pulsação pelo inesperado. Flashes. Talvez nunca exista outro igual. Talvez sim. Quem há de saber? Só vivendo um dia após o outro que descobriremos.
Ah! Bendita invenção essa. Parabenizemos seu inventor. Não sabemos por que nos faz nascer e viver, se vai nos matar no final da linha, mas nos presenteou com belezas infindas: cheiros, gostos, sons, toques, imagens. Os mais belos. E nos permitiu que vivêssemos um dia após o outro, para que possamos apreender todas essas belezas de diferentes maneiras. O objetivo? Só esse criador há de saber. Inocentes que somos, tentamos descobrir um dia após o outro. Talvez isso nos dê ânimo para continuar. Continuemos. Sem pensar no porquê. Há de haver uma explicação. Em algum lugar. Vivamos um dia após o outro. Quem sabe no final do dias a resposta seja a de que há mais uma infinidade de dias para vivermos, um após o outro, rodeados pelas belezas mais belas?