sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

¿Happiness?

Quando eu fui feliz, telefones não existiam. E, quando existiam, tocavam. Nesse dia, atravessei uma ponte e vi uma flor muito muito grande. Quando eu fui feliz, o sol se punha, o rádio tocava e eu dormia deitada no chão. Um pouco antes, bebia água em uma garrafa de 1,5 l. Quando eu fui feliz, recebi uma notícia boa e encontrei a pessoa a quem eu mais queria contar por coincidência. Nesse dia, eu podia dormir duas horas depois do almoço.

Não adianta querer ser feliz. A felicidade não é um vestido de R$875,00. Não adianta buscar a felicidade. A felicidade não é um bicho de estimação perdido no centro da cidade. E não sei mais o que dizer, porque, em vinte poucos anos de vida, foi só isso que eu aprendi.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sendo feliz

Ser feliz é mais fácil que encontrar a felicidade. Ser feliz é mais simples que uma equação de primeiro grau. Tão descomplicado quanto abrir uma garrafa de refrigerante. Mas, para comemorar que está feliz, esforce-se e abra uma garrafa de vinho.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A menina de outrora

Sobrou daquela menina de outrora uma tristeza meio não sei por quê, com jeitinho de não sabe de onde veio. Sobrou um quando em vez olhar perdido, que vagueia procurando o que nem lembra que perdeu. Sobrou uma lágrima sozinha, chorando quietinha no canto do olho. Sobrou também um nó cego no coração.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Palavras

Queria te dizer, mas me confundo com as minhas palavras, porque delas não sei viver mais. Respiro palavras e penso o ar. Cada palavra tem um tempo, e eu tropeço no relógio que me falta para viver. São frases soltas a toda hora, e a agulha para costurá-las em texto me escapa. Me escapa como seu corpo, que já não sei definir com palavras. E tantas palavras me ocorrem agora. Pouca lógica. Mudo a tática.

Nessas horas, na sensação doce, quente e úmida, onde não cabem palavras, que eu me expresso melhor. Tropeçamos nas palavras que nunca serão ditas. Palavras que prescindem de significado. Afogamos elas nas nossas bocas. Palavras mudas, empurradas para dentro de você, com a força do meu desejo. Suas palavras dentro de mim. Somos textos. Eu sou seu texto, você é o meu. Somos um livro, um manual de palavras caladas, doces, suadas.

E então somos uma caderno em branco. Pronto para ser desenhando, rabiscado, rasgado. Novas palavras surgirão.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Falo duas vezes o que acabei de pensar. Não penso duas vezes antes de falar. Faço várias vezes antes de dizer o que deixei de pensar para fazer. E não esteja na minha frente.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A moça da fila

Estava na fila. Com um gesto deliberado, pensado meticulosamente de forma a parecer casual, passou a mão pelo rosto. Ela não notaria. A fila estava grande naquele dia, e ele preferiu chamar atenção da moça conversando com o senhor a sua frente. Que absurdo! Sempre cheio! O Brasil! Um absurdo! Desrespeito. Obviamente encontrou coro em todos os ocupantes da fila, que parecia ter triplicado aquele dia. Mas a moça não. A moça nunca se misturaria àquela horda de reclamões.

Já não se lembrava quando foi a primeira vez que ela apareceu. Foi em um dia sem fila, disso estava certo. Um dia em que o sol brilhava na sua bolsa verde com detalhes prateados. A luz refletiu em um daqueles detalhes e veio parar em seus olhos, chamando a atenção dele para ela. Foi o suficiente. Daquele dia, que não sabe bem quando foi, em diante, a moça se tornou o motivo de seu despertar.

Ela não era linda, não era magra, não era alta, não era loura. Ela tinha aquele jeito indiferente, de quem entra na fila sem saber exatamente o porquê. Suas mãos dançavam com a música que tocava em seu pensamento. Seu olhar vagueava por entre os galhos, por entre as pessoas, por entre as frestas. Como se tudo tivesse o mesmo valor. Não se encostava, não sorria, não dava bom-dia. Estava ali sem estar. Tinha certeza de que à moça não faltava educação. O fato de não ser simpática não significava antipatia. A moça não pertencia àquele mundo de fila, pessoas, bocejos, reclamações. A moça era de um mundo onde tudo tem o tempo e o espaço do infinito.

Um dia decidiu que atrairia a atenção da moça. Não estava certo ainda de como procederia. Não tinha estratégias nem planos. Passar a mão no rosto foi a primeira tentativa frustrada. Conversar com o senhor a sua frente foi intuição. Um esboço de um plano. Um salto no escuro. Um quase-não-pensamento. Mas como se tudo já estivesse desenhado por outras mãos, ao comentar sobre o tamanho da fila com o senhor, a confusão começou.

E ele então notou que a moça se afastava. Lentamente. Com os passos de quem pisa em nuvens. Foram três. Para trás. Ele a seguiria. Era sua chance. No caso dele, seriam sete passos para frente. Estava agora a setenta e dois centímetros da moça. Respirou. Uma respiração de quem perde o ar, de quem não precisa mais de ar. Não pensou e disparou. Oi? Confusão, né? Como resposta um sorriso displicente.

Ah! Mas que sorriso. Tinha certeza de que a moça nem ao menos o escutara. Mas sorrira de volta, respondendo aos múrmurios de sua voz. Seu corpo vibrou. Ele já tinha planos para o dia seguinte.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Esse sentimento não tem título

Paro e escuto o que pulsa dentro de mim quando te vejo. Pulsa a alma. A alma que sabe estar vendo sua outra parte. E daí vem uma vontade louca de eternizar cada segundo do seu olhar, da sua luz. De transformar esse sentimento em foto, em árvore, em sangue. De querer não ser dor, não ser medo, não sermos mortais. De entender o todo, de entender o nada. E se chamam amor, eu digo que amo. E amo tanto que minha alma pulsa...

E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas
Porque você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas

Sem

É preciso arrancar você de mim. Nem que seja por inteiro. Nem que seja aos pedaços. Nem que seja. E que seja quando os deuses desistirem de fazer chover na minha casa. E que seja quando eu menos esperar. E que seja.
Sei que se fosse possível, seríamos o que éramos antes. Mas não achamos mais o antes desde que o depois nos passou uma rasteira. E o que é o antes, meu amor, se não um monte de histórias para contar? Um monte de fotos para guardar? Um monte de lembranças para esquecer?
Vamos nos reinventar. Seremos dois em vez de um. E a cada passo, escutando o eco de nós dois, fecharemos os ouvidos aos sorrisos nossos. Aos planos nossos. Às vontades nossas.
O vento desabou nossa ilusão. Uma semana sem luz. Um mês sem água. Um ano sem comida. Dois anos sem você. A ilusão que agora é areia fina, que vai embora com esse vento. A ilusão que é água, que é luz, que é alimento, que é você.
Foi-se o tempo em que era tempo de catar a areia, de escutar nossos passos, de ouvir as histórias contadas pelas lembranças. Foi-se. E agora é necessário olhar outras fotos, dar novos passos. Fotos sem você. Passos sem você. Sem você, mas não mais sem mim.