Queria te dizer, mas me confundo com as minhas palavras, porque delas não sei viver mais. Respiro palavras e penso o ar. Cada palavra tem um tempo, e eu tropeço no relógio que me falta para viver. São frases soltas a toda hora, e a agulha para costurá-las em texto me escapa. Me escapa como seu corpo, que já não sei definir com palavras. E tantas palavras me ocorrem agora. Pouca lógica. Mudo a tática.
Nessas horas, na sensação doce, quente e úmida, onde não cabem palavras, que eu me expresso melhor. Tropeçamos nas palavras que nunca serão ditas. Palavras que prescindem de significado. Afogamos elas nas nossas bocas. Palavras mudas, empurradas para dentro de você, com a força do meu desejo. Suas palavras dentro de mim. Somos textos. Eu sou seu texto, você é o meu. Somos um livro, um manual de palavras caladas, doces, suadas.
E então somos uma caderno em branco. Pronto para ser desenhando, rabiscado, rasgado. Novas palavras surgirão.