É preciso arrancar você de mim. Nem que seja por inteiro. Nem que seja aos pedaços. Nem que seja. E que seja quando os deuses desistirem de fazer chover na minha casa. E que seja quando eu menos esperar. E que seja.
Sei que se fosse possível, seríamos o que éramos antes. Mas não achamos mais o antes desde que o depois nos passou uma rasteira. E o que é o antes, meu amor, se não um monte de histórias para contar? Um monte de fotos para guardar? Um monte de lembranças para esquecer?
Vamos nos reinventar. Seremos dois em vez de um. E a cada passo, escutando o eco de nós dois, fecharemos os ouvidos aos sorrisos nossos. Aos planos nossos. Às vontades nossas.
O vento desabou nossa ilusão. Uma semana sem luz. Um mês sem água. Um ano sem comida. Dois anos sem você. A ilusão que agora é areia fina, que vai embora com esse vento. A ilusão que é água, que é luz, que é alimento, que é você.
Foi-se o tempo em que era tempo de catar a areia, de escutar nossos passos, de ouvir as histórias contadas pelas lembranças. Foi-se. E agora é necessário olhar outras fotos, dar novos passos. Fotos sem você. Passos sem você. Sem você, mas não mais sem mim.