sábado, 5 de abril de 2008

Culpada ou inocente

Nada do que eu disser poderá ser usado contra mim. Nada do que eu disser será usado. Nada do que eu disser. Eu falo muito. Tudo o que eu disser será usado contra mim, vez ou outra, inevitavelmente. Tudo o que eu digo é usado, é descartável, é de segunda mão. Eu tenho o direito de manter-me calada. Calada, a fim de evitar outras tragédias. A fim de não piorar sua situação. Eu nunca fico calada. Minha missão na Terra é prenunciar tragédias, é causá-las, a mim e aos outros. As situações são ruins por si só. O fato de eu falar ou ficar calada não as pioraria. Eu tenho o direito a um advogado. Alguém que me defenda, de mim mesma se for preciso. Alguém que queira me salvar. Principalmente, que me ensine como sair dessa tragédia em que eu me meti.

Eu juro dizer a verdade e somente a verdade, acima de todas as coisas. Juro pela Bíblia? Juro pela minha mãe? Eu não juro por ninguém. E logo agora que eu queria usar o direito de ficar calada, obrigam-me a dizer a verdade, nada além da verdade. O que há além da verdade? A mentira? A verdade mais pura e mais real? Alguém já foi lá? Quem é a verdade? Podemos ver o que há além da verdade através dela? E cadê o advogado? Chamem as testemunhas. Não, não as que vão testemunhar contra mim. As testemunhas a meu favor. Por favor. Como? Não há testemunhas a meu favor?

Eu fui considerada culpada. Culpada. Cheia de culpa. Presa por te usado minhas palavras. Por ter feito delas minha arma, meu instrumento de tortura contra mim mesma. Minha tortura é um crime para os outros. Minha tortura é a tragédia pessoal do mundo. Tudo o que eu disse foi usado contra mim mesma. Tudo que eu disse foi usado. Defendi-me sozinha.