Vergonha. Não consigo pensar em outra palavra. Talvez nojo, talvez raiva. Mas vergonha expressa melhor. Vergonha por ser fraca, vergonha por não ter controle, vergonha por não ter determinação, vergonha por não conseguir cumprir metas, vergonha por desistir de tudo, vergonha por não tentar, vergonha por não ter força de vontade, vergonha por sucumbir, vergonha por ser gorda, vergonha por não tomar decisões, vergonha por precisar dos outros, vergonha por não conseguir não precisar, vergonha por hesitar, vergonha por ser quem eu sou, vergonha, vergonha. Queria poder me esconder de mim mesma e não me enxegar. Não precisar passar na frente dos meus olhos, tão suja e fracassada eu sou.
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Procuro em todos os cantos uma forma de me diminuir, de me humilhar, de me maltratar. Sei que os caminhos são muitos. Sempre prefiro os curtos e tortuosos.
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Cheguei num ponto que só me restaram os seres divinos. Não sei a quem mais devo recorrer. A situação não poderia estar pior. O buraco não parece ter fim. O ditado “do chão você não passa” não faz o menor sentido agora. Meu chão parece uma areia movediça. Todo dia eu sinto estar um pouco abaixo do que estava antes. E não enxergo mais onde posso segurar. Se é que algum dia houve esse “onde posso segurar”.