E vem chegando, como uma anunciação de tempestade: negra, espessa, doída. A velocidade é maior ou menor dependendo da companhia. Mas não me deixe só.
Aperta meu peito, me cega, dispara em mim sensações tão desesperadoras que mal posso respirar. E eu me afasto, eu afasto todos. O toque é incômodo, o vazio é libertador. Não há carinhos ou carícias. Descargas elétricas. Tortura. Mas não vá embora.
Os sentimentos humanos me parecem desnecessários e pequenos. Escolho palavras como burrice, mesquinharia, mediocridade, ignorância. Preguiça de conversar, de falar. E eu nem sabia que ouvir poderia ser tão esquisito.
Atento para todas as palavras vãs desperdiçadas, lançadas ao vento. As horas que as pessoas que não são como eu gastam preenchendo uma vida de leviandades. Para quê? Para onde? Para quando?
Procuro por trás das montanhas, dentro das horas, fora das gavetas, no prato cheio, na panela vazia, nas peças dos eletrodomésticos quebrados, nos olhos dos seres pseudo-humanos. Não está aqui, tenho certeza. É mais além.