O punhal foi bem fundo. Como talvez nunva tivesse ido. Foi proposital. Entrou lento, sangrando. Foi tirado rapidamente. Ela prestou atenção em cada nota dissonante da dor. Dor essa que não foi do corte, do ferimento, era uma dor preexistente. Fazia parte da alma.
O punhal em cima da mesa, o sangue escorrendo pelo chão. A morte era tão certa quanto o renascimento. Ela morreu para ressuscitar. Para que o mal daquela vida fosse embora. Reviver, outra, nova, sem passado preso aos tornozelos, sem grilhões. A segurança da redenção. Chorou até cegar-se. Cada lágrima, um caco de vidro em seus olhos. Medo, não. Não havia mais medo. Dor, sim. Sempre.
E agora, a espera. Esperar para que toda a dor seque, como secará o sangue no ferro do punhal. Aguardar para que o olhos, não mais nublados por ilusão e lágrimas, possam ver a verdade. O coração, não mais rasgado pelo punhal, sinta algo diferente de dor.