Não sou eu, são minhas palavras. Elas falham na tentativa de dizer o que eu sinto. Falham de bobas que são. Ficam tentando se proteger. Ou sei lá, me proteger. Já disse que não precisa. Falei para que ficassem atentas ao que ocorre do lado de fora: a qualquer instante seriam solicitadas. Mas elas teimam em resguardar-se. Nem parecem com a dona. Ou talvez conheçam bem demais a dona que têm e, por isso, ficam quietas, achando que assim guardam uma reputação.
E se as palavras não saem, não se manifestam, ficam a rodar dentro de mim, amputadas, coxas, imperfeitas. E tudo dói. Então eu reclamo: antes vocês, palavras, tivessem saído e sido ditas. Não ficariam aí se debatendo, formando frases que nunca verão a luz do dia. Alíás, um grande desperdício é quando você imagina toda aquela conversa, com aquela pessoa, por causa daquele problema. Palavras e palavras arrumando-se em fileiras, em colunas. Lindas. Na hora de marcharem, recuam e decidem se esconder, bem no fundo de um baú de "conversas a se ter". Minhas palavras são assim: estúpidas, cegas e covardes.
Diariamente, colo parte delas aqui, com algum super adesivo eterno desses. Depois, quando volto para ver como estão, algumas me parecem tão bobas, estáticas na tela, com fantasia de palhaço, com jeitinho de inúteis. Outras surgem um pouco mais arrumadas, como se não fossem minhas. E todas ficam aqui, coladas, para sempre, mesmo que o prazo de validade delas já tenha expirado.